segunda-feira, 16 de abril de 2012

LISTA DOS TRABALHOS APROVADOS PARA APRESENTAÇÃO NO IV SEMINÁRIO ARTE E IMAGINÁRIO NA EDUCAÇÃO



RELAÇÃO DOS TRABALHOS ACEITOS PARA APRESENTAÇÃO NO IV SEMINÁRIO ARTE E IMAGINÁRIO NA EDUCAÇÃO


MODALIDADE: COMUNICAÇÃO ORAL

NOME
TÍTULO
EIXO
ALDALÉA FIGUEIREDO DOS SANTOS (UFF)
A EDUCAÇÃO POÉTICA NA LINGUAGEM DE BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓS
4
CLEUMA MARIA CHAVES DE ALMEIDA (UFMA)
UMA REFLEXÃO SOBRE A IMAGEM DO NEGRO NO LIVRO DAS MIL E UMA NOITES, À LUZ DA TEORIA DO IMAGINÁRIO
1
LIA SILVA FONTELES (UFMA)
AS CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DO IMAGINÁRIO PARA O DESENVOLVIMENTO CURRICULAR CONTEMPORÂNEO
2
LÍDIA MARIA OLIVEIRA ROSA (UFMA)
O IMAGINÁRIO NA DIMENSÃO EDUCATIVA DE HEITOR VILLA-LOBOS:
UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA PARA ALÉM DO ERUDITO
2
MARIA JOSÉ DA SILVA MORAIS COSTA (UFAC)
ESCO – LINHA: O FIO DE ARIADNE E AS POSSIBILIDADES SIMBÓLICAS DO ESPAÇO ESCOLAR
4
MICHELLE DE KÁSSIA FONSECA BARBOSA (UFPB)
JACÓ E RAQUEL: VESTÍGIOS DE UM IMAGINÁRIO
1
VIRGÍNIA MACÊDO DE SOUZA SILVA (UFPB)
UM BANQUETE E O IMAGINÁRIO SIMBÓLICO
3
MONIQUE DE OLIVEIRA SERRA (UFMA)
A DIMENSÃO SIMBÓLICA E EDUCATIVA DOS MUSEUS POPULARES DE SÃO LUÍS

 2
 ANÍZIA ARAÚJO NUNES MARQUES (UFMA)
IMAGENS DA CULTURA BRASILEIRA: OS BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS INFANTIS
 4
DEOLINDA MARIA SOARES DE CARVALHO (UFAC)
TECENDO NARRATIVAS: O IMAGINÁRIO DA FORMAÇÃO DOCENTE EM LOCALIDADES DA FLORESTA
2
EUNICE SIMÕES LINS GOMES (UFPB)
IMAGINÁRIO E EDUCAÇÃO:
A HISTÓRIA DE VIDA DE PADRE INÁCIO DE SOUSA ROLIM
3
TANIA MARTA COSTA NHARY (UERJ)
O IMAGINÁRIO DO CORPO NA ESCOLA
4










































Eixo 1: Literatura, Imagem e Imaginário – reverberações na Educação
Eixo 2: Imagem, Imaginário e Educação
Eixo 3: Arte, Imagem e Imaginário
Eixo 4: Imagem, Imaginário e Pesquisa


MODALIDADE: POSTER

NOME
TÍTULO
EIXO
CAROLLINE DE SOUZA BOTELHO (UFMA)
 BULLYING, IMAGEM CORPORAL E RELAÇÕES SOCIAIS – PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES PARA UMA ANALISE DA VIOLÊNCIA ENTRE JOVENS.
2
PAULO GUSTAVO MOREIRA JUAREZ (UFMA)
CIÊNCIA, IMAGINÁRIO E EDUCAÇÃO EM RAUL SEIXAS
2
DYÊGO MARINHO MARTINS (UFMA)
MARANHÃO 66: O CINEMA COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA PARA A DISCUSSÃO DO IMAGINÁRIO POLÍTICO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
2
LIA SILVA FONTELES (UFMA)
 O IMAGINÁRIO SOBRE A INFÂNCIA NO CONTEXTO DA ESCOLA PÚBLICA DE SÃO LUÍS/MA
2
 ANÍZIA ARAÚJO NUNES MARQUES (UFMA)
 
 BRINQUEDOTECA: LOCUS PRIVILEGIADO DA LUDICIDADE E DO IMAGINÁRIO NA INFÂNCIA
GABRIELLA ALVES FERREIRA (UFMA)
A RELAÇÃO COTIDIANA PROFESSOR/ALUNO NO CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO (UFMA)
2
ANGELINA BATISTA (UNESP)
CONTRIBUIÇÕES DA PEDAGOGIA DO IMAGINÁRIO PARA A APRENDIZAGEM DA LEITURA E ESCRITA
1
JOSÉ CARLOS FRANCO DE LIMA (UFRR)
REPRESENTAÇÕES SIMBÓLICAS DO LAVRADO RORAIMENSE
1




































Eixo 1Literatura, Imagem e Imaginário – reverberações na Educação
Eixo 2: Imagem, Imaginário e Educação
Eixo 3: Arte, Imagem e Imaginário
Eixo 4: Imagem, Imaginário e Pesquisa


quinta-feira, 15 de março de 2012

ARTIGO


MUSEUS E EDUCAÇÃO
João de Deus Vieira Barros[1]


RESUMO

O presente trabalho procura investigar em que medida os museus de um modo geral, mas em especial os museus históricos e artísticos são depositários de uma memória social e de como esse aspecto possibilita utilizá-los tanto como meio de educação não formal quanto de complemento à educação escolar. Objetiva ainda contribuir para o debate que vislumbra as relações patrimônio cultural, imaginário e educação, como subsídio à sedimentação de uma identidade coletiva.

Contemporaneidade é o presente histórico (...) no tempo físico, o presente é a mais irrelevante de todas as dimensões (...) O presente, enquanto dimensão do tempo físico é, pois, um irremediável estado de passagem (...) Contemporaneidade é a dimensão presente do tempo histórico (...) São contemporâneas coisas, pessoas, fatos, idéias, acontecimentos que fazem parte da vivência de um tempo. Quanto dura? Depende dos limites que lhes coloquemos.
Beatriz Fétizon


                 O tema desse trabalho incita-nos a uma incursão, ainda que breve, nos meandros do tempo. Não há como falar de museus e educação sem nos referirmos à temporalidade. O museu nada mais é que a tentativa humana de coagulação do tempo. O sonho humano de parar ou aprisionar o tempo está materializado nos museus.[2] Na condição de educador irei me preocupar apenas em apresentá-lo como um lugar de educação não formal, no entanto, sem perder de vista as enormes possibilidades que os museus oferecem como parceiros ou complementares da educação escolar.
                Mas o que é educação não formal? O que a diferencia da educação formal ou escolar? Para os fins da presente reflexão é suficiente apreender da educação não formal, conforme nos lembra Gohn (1999) sua atuação de forma difusa, menos sistemática e burocrática que a escolar. Não possui uma centralização unificada e institucionalizada que determina currículos e fiscalizações.
                 Enfim, a educação não formal tanto quanto a informal – essa sim, absolutamente assistemática e sem espaço e tempo pré-determinados para acontecer, estando, portanto, presente em todos os momentos e lugares das vidas das pessoas – possuem em comum o fato de acontecerem predominantemente fora dos espaços das escolas, tendo como transmissores do saber os não-professores, ou seja, agentes educativos que, em virtude do cargo,  função ou papel social que ocupam no mundo do trabalho ou na sociedade, respectivamente, tornam-se multiplicadores potenciais ou efetivos do conhecimento, ajudando a escola em sua função precípua de educar. Dentre as agências de educação não formal encontram-se cinemas, galerias de arte e museus. E entre os meios de educação informal podemos apontar, por exemplo, as tradições culturais e os esportes populares quando são praticados em praias, ruas e outros espaços informais.[3]
               Voltando à questão do tempo, para Fétizon (2006, p.164) “O presente é um irremediável estado de passagem. Só adquirirá estabilidade histórica – completa e intocável, quando se tornar passado”.

               E mais, a contemporaneidade:
            
 “É o recurso humano genial de enfeixar as três dimensões do tempo – passado, presente e futuro – num único espaço-tempo humano, irreal e imperfeito em que as três dimensões, numa larga margem temporal se tornam uma – e uma estável e significativa sede temporal de nossa vida; sede e dimensão em que vivemos e nos construímos como seres reais e realmente existentes.” (idem)
             
               Portanto, os museus de um modo geral, em especial os museus históricos, possuem uma característica única: situam-se permanentemente no tempo físico do presente, mas, contraditoriamente, almejam guardar ou aprisionar o passado histórico, já que o passado físico é irremediavelmente, passado. Contraditoriamente, também, os museus são espaços-tempo objetivamente situados na contemporaneidade e, como tal, têm possibilidade de enfeixar os três tempos: passado, presente e futuro. Em nenhum lugar somos mais convidados a antever o que virá que em um museu. O acervo dos museus, relativo a qualquer período histórico, tanto nos leva a devanear[4] sobre um tempo do qual não somos testemunhas, quanto nos convida a sonhar com um futuro. Isso nos leva mesmo a pensar em duas situações: uma que seria a possibilidade de existência de um museu somente com objetos contemporâneos. E isso parece que as denominadas feiras já realizam. Feiras de novidades eletrônicas, de utilidades domésticas, de arquitetura, de máquinas e outros utensílios. Tecnologia, sonhos e devaneios se entrelaçando[5].
                A segunda situação seria um museu de objetos futuros. O simples desejo humano já não seria, assim, a antecipação do futuro?
                 Não quero me estender demais nessas digressões. No entanto, valho-me de três exemplos: J. C. de Melo Neto, poeta pernambucano, já escreveu um livro denominado “Museu de Tudo”. De que trataria um livro de poemas com tal singularidade? Convido os presentes que desconhecem tal obra a imaginarem. O cantor e compositor Cazuza, na música “O tempo não pára”, nos brinda com os versos: “Eu vejo o futuro repetir o passado. Eu vejo um museu de grandes novidades. O tempo não pára”. Eu próprio já escrevi um texto cujo título é “Museu de Gestos” [6]. Como e onde seria tal museu?
                E tudo isso nos leva a indagar sobre uma outra concepção de museu, ademais vislumbrada por artistas[7], à margem de um pensamento científico ou de cunho eminentemente pedagógico. Um museu em que presente, passado e futuro co-existissem, privilegiando toda a produção do imaginário[8] humano. Tudo isso para além de uma crença de que “museu é lugar de coisas velhas” ou de que “lugar de velho é no museu”, como vociferam bocas inadvertidas. Em ambos os casos a revelação de duplo preconceito: tanto com os velhos (idosos), quanto com o museu enquanto espaço da memória e das realizações humanas.
                De um modo geral, como se entrelaçam museu e educação?
                Já vimos que o museu é um espaço educativo por excelência, não somente por nele encontrarmos parcela significativa da cultura material da humanidade, mas por ele ter-se tornado um lugar de encontro, por excelência. É o encontro e é pelo encontro que acontece o aprendizado: “O museu deve ser fórum, lugar de encontro, espaço de debate, um lugar em que as coisas se produzem e não apenas o já produzido e já comunicado” Como nos lembra a pesquisadora Magali Abreu[9]. Portanto, uma das importantes características do museu como espaço educativo está justamente em sua possibilidade de uso como locus de socialização e de sociabilidade. Lugar em que as pessoas se encontram não apenas para realizar visitas burocráticas, mas lugar de descoberta e, sobretudo, de auto-descoberta, visto que hoje já não é mais possível uma educação que  proporcione apenas o conhecimento, mas também, o auto-conhecimento.
                Não podemos nos esquecer de que um museu (e refiro-me especialmente aos museus históricos e artísticos) é um guardião da produção cultural, em especial, da cultura material de um povo. Portanto, lugar que proporciona ao ser um encontro com a história humana, com o passado coletivo e também com as raízes de uma identidade nacional, por conseqüência com uma identidade individual.
                Um museu há que ser um espaço em que nos encontremos conosco mesmos, com um passado e com um fazer coletivos que influenciaram a contemporaneidade. A história não é produto de uma única classe ou etnia. Os museus devem possibilitar aos que os freqüentam a chance de um encontro com nossas origens e raízes culturais, portanto simbólicas – mas que reverberam ou repercutem como imagens trans-históricas e que chegam até nós com a força viva dos acontecimentos que, vindos de um passado, de certa forma ecoam até os nossos dias.
                Dessa forma, os museus como espaços educativos devem ser capazes de possibilitar o gosto e a apreciação da cultura material e simbólica, bem como o gosto pela sua preservação e perpetuação. O gosto e capacidade de apreciação tanto do belo quanto do repugnante, pois objetos por mais que sejam ancorados em suportes da materialidade, carregam em si o peso da história e invocam realizações, tragédias e sentimentos ofuscados pelo próprio passar do tempo. Objetos de museus devem possibilitar a revivência do passado e seu prolongamento até nós.
                Vejamos o que nos diz Messentier (2005, 170), a respeito da relação memória/aprendizagem:

                                                    Como todos sabem não há aprendizagem sem memória. O processo de construção da memória social é, portanto, um elemento que contribui para o êxito de uma sociedade no equacionamento dos problemas com os quais se confronta (...).

 Ou ainda:

Para o desenvolvimento da humanidade, também foram fundamentais a escrita, a organização de bibliotecas e, seguindo nesse caminho até chegar ao computador, a criação dos mais variados tipos de suporte da memória social, porque estes instrumentos ampliaram a capacidade e aceleraram o processo de aprend1zagem social. (idem)

                E conclui esse autor que a construção da memória social é decisiva para a formação de identidades coletivas.
                 Portanto, o museu há que ser um lugar que proporcione a construção ou perpetuação/sedimentação dessa memória social, reelaborada ou relida a cada momento histórico, mas com a finalidade de ajudar a construir a identidade coletiva. E isso é um dos interesses da educação.  Tomando-se o cuidado de que essa memória, sendo nacional respeite a pluralidade, uma vez que: “o mesmo objeto patrimonial pode constituir em uma referência de diferentes identidades.” (idem, p.171)
               Por exemplo, São Luís é referência para os ludovicenses, maranhenses, brasileiros e é patrimônio mundial da humanidade.
               O autor nos lembra ainda que “o patrimônio edificado possibilita um contato coletivo da multidão anônima das cidades com referências da memória social” (idem, p.172). E é esse caráter público que favorece tendências à socialização, pois possibilita a apreensão do sentido de história por todos. (idem).
                Posso dizer que o acervo de um museu também se presta a isso.
                Para concluir esse trabalho gostaria de inserir no mesmo uma crônica[10] que publiquei há quinze anos atrás, a qual realiza uma especulação sobre um museu absolutamente imaginário. Talvez mesmo um museu de devaneios. Em que medida a educação escolar não necessita de um museu (ou museus) como o que descrevo a seguir, para que se consiga atingir uma educação formal mais afinada com os gestos da humanidade, levando o educando a perceber a grandiosidade e mesquinharia de determinados gestos humanos? Vejamos o texto, integralmente.

        “Quem nunca se traiu pelas palavras? Ou por um gesto?
           Imagino um museu diferente: de gestos. Um outro mais estranho ainda: de palavras[11]. E um outro mais impossível: de sonhos. Não sei qual seria mais efêmero.
            No Rio de Janeiro existe o `Museu do Imaginário´, resultado de estudos iniciados há décadas pela psiquiatra Nise da Silveira, a partir de trabalhos realizados por `doentes mentais´. Não deixa de ser um museu de sonhos, manifesto em forma de artes plásticas, desenhos, pinturas. A doutora Nise é uma seguidora de Jung e trabalha de há muito com a simbologia das imagens pictóricas oriundas das ditas `mentes doentias´ e o resultado é fantástico, pois muitos quadros são verdadeiras obras de arte. Aliás, arte e loucura andam muito próximas e até existe no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo cadeira com esse título: `Arte e Loucura´.
           Voltemos, então, às perguntas iniciais: `Quem nunca se traiu pelas palavras? Ou por um gesto?´.
           Tenho um museu de palavras e gestos. Quem não o tem?
           Quantas vezes fomos vítimas de uma traição por outros, através de falsas palavras ou gestos maliciosos que deram a entender a outras pessoas sobre fatos que, justamente, desejamos ocultar?
             Quem, na infância, não ouviu palavras que no mesmo instante estavam sendo desmentidas, discretamente, por um piscar de olhos da mãe para o pai ou vice-versa? Depois, dormíamos, sonhávamos e, no dia seguinte, acordávamos e quem sabe até pensássemos que tudo não passara de um sonho.
           Especulemos, agora, nosso museu de gestos.
           Como seria? Deveria, sem dúvida, haver um critério para sua formação. Primeiro teríamos que selecionar as peças desse museu, enfim, que gestos selecionar... Depois procuraríamos saber a quantidade de gestos e, finalmente, onde guardar todos esses gestos.
           Privilegiaríamos os gestos simbólicos ou os diretos? Os gestos individuais ou coletivos?
           Poderiam conviver lado a lado o gesto sublime de Cláudia[12] amamentando a filha com o gesto duro de um pai repreendendo o filho, sem nem se comover com as lágrimas que escorrem por aqueles olhos?
           Talvez fosse ideal um museu departamentalizado, não com gestos expostos aleatoriamente. Haveria a seção dos gestos simbólicos (e é tão difícil dizer qual não é) individuais e coletivos: como o do estudante oriental que se postou diante do trator na praça da `Paz Celestial´ ou o do romeiro que paga promessa carregando enorme pedra na cabeça, durante a procissão de São José de Ribamar. O primeiro simboliza a coragem; o segundo, o sacrifício, a autoflagelação, diríamos, em nome da fé.
           Haveria outras seções, como a dos gestos bruscos, dos violentos gestos, a dos gestos calmos, como o leve levantar das mãos de Hermínio[13] pedindo `bênção, meu padrinho´, nas calmas manhãs de Ribamar
           Haveria, ainda, a seção dos gestos sublimes, dos nefastos, dos negligentes...
           Deveria haver um espaço só para gestos obscenos? E um lugar só para os grandiosos gestos?
           Quem sabe houvesse uma seção para os gestos ingênuos, outra para os gestos maliciosos: aqueles que dizem e não dizem, são e não são.
           Talvez fosse necessário colecionar-se também os gestos ligados ao corpo humano. Sorrisos de todos os tipos quantos[14] não seriam? Piscares. Abrir e fechar de bocas. Mãos acenando, caindo, mãos se esfregando, acariciando, apertando o próprio corpo ou partes dele. Pernas bambas... Seriam tantos gestos. Pernas firmes, correndo, paradas.
           Esse museu seria imenso. Se resolvêssemos catalogar e colecionar esses gestos diacronicamente, então, talvez acabássemos por contar a própria história da humanidade: a história feita de gestos, de grandes e de pequenos gestos, de gestos grandiosos e mesquinhos que levaram o mundo ao que é.
           Gestos. Gestos. Gestos. A história e a própria vida resultam deles: sucessão, um puxando o outro.
           A verdade é que cada um de nós guarda um museu de gestos: somos projetor e tela. Em que espaço selecionar, catalogar e reunir tudo isso?
Só existe um: o espaço mental. Nele, individual ou coletivamente, cabem todos os gestos da humanidade. [15]


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BACHELARD, G. A poética do Devaneio. São Paulo: Martins Fontes, 2. ed., 2006
BARROS, J. D .V. Museu de Gestos, O Imparcial, p.4, Opinião, São Luís, 28 de julho de 1992
FÉTIZON, B. Desafios Epistemológicos e Educacionais na Contemporaneidade. Anais do II Encontro de Educadores do Maranhão, Conferência de Abertura, p.163-177, São Luís-Ma
MESENTIER, Leonardo M. Patrimônio urbano, construção da memória social e da cidadania. Revista Memória, Natal: UFRN, n.28, p. 167-177






                


[1] Professor do Departamento de Educação II e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), São Luís - Maranhão, CEP 65.000.000, e-mail joaoddeusarte@yahoo.com.br
[2] Não é objetivo deste trabalho discorrer sobre a origem e a evolução dos museus. Pretendemos tão somente fornecer alguns aspectos da relação museu e educação, apontando características do mesmo na contemporaneidade que podem torná-lo espaço de aprendizagem não formal e de complemento à educação escolar.
[3] Esse debate é bastante profícuo e poderia ser ampliado num outra ocasião. É importante perceber que em alguns momentos há uma imbricação de todas as formas de educação, sendo impossível separá-las no tempo e no espaço. Na escola, a despeito da supremacia da formalidade, a educação informal pode ocorrer, por exemplo, nos recreios, festas e rituais. A educação não formal pode acontecer dentro da escola, por exemplo, quando essa abre suas portas para a comunidade, oferecendo cursos de pequena duração, em geral, profissionalizantes.
[4] Devaneio no sentido bachelardiano, em A poética do Devaneio, como um estado feminino da alma. Sonhamos no masculino, na medida em que sonhos para o autor, são no fundo, racionalizações. Mas devaneamos no feminino, o que associa o devaneio ao repouso, aconchego. O devaneio também abre possibilidade de alteração do estado de consciência levando-nos a recriar. Enfim, uma simbiose entre memória e imaginação.
[5] Interessante notar que objetos de uma feira, fatalmente virarão objetos de museus.
[6] Texto publicado pelo jornal “O Imparcial”, de São Luís-Maranhão, em 1992. Confira-o na íntegra, ao final deste trabalho.
[7]  Refiro-me aos artistas anteriormente citados e esclareço que a presente comunicação nasce do convite realizado pelo Museu Artístico e Histórico do Maranhão para que participássemos de uma mesa redonda sobre Museu e Educação, por ocasião da Jornada Comemorativa dos 34 anos daquela instituição, no dia 27 de julho de 2007. O convite instigou-me a realizar pesquisa (ainda que breve) sobre o papel dos museus nos processos educativos formais e informais, o que resultou na elaboração do presente texto e na descoberta de que há 15 anos eu já me confrontara com o tema, ao escrever a crônica “Museu de Gestos”. Portanto, tal crônica nasce antes de nossa condição de artista, artista da palavra, pode-se dizer. Aqui se unindo a devaneios científicos. Veja-se a esse respeito nota anterior.
[8] Imaginário como sinônimo de conjunto de imagens humanas produzidas pela cultura: quer imagens materiais, concretas (objetos); quer imagens simbólicas, abstratas em suas essências. Portanto imagens constantemente atualizadas pela capacidade humana de imaginar, renovar, realizar.
[9] Na revista eletrônica do Museu da Cidade.
[10] Trata-se de “Museu de Gestos”, crônica que publique no jornal “O Imparcial”, de São Luís do Maranhão, no dia 28 de julho de 1992
[11] Importante lembrar que não faz muitos anos foi inaugurado em São Paulo, na Estação da Luz, o Museu da Língua Portuguesa que, em sua essência, é um museu de palavras. Portanto, há quinze anos, quando escrevi essa crônica, sequer imaginava que algum dia existiria no Brasil um museu de palavras.
[12] Trata-se de uma jovem mãe de São José de Ribamar - Ma, que ganhara a primeira filha, cujo gesto de amamentá-la em público, exibindo os seios, chamou-me a atenção pela sublimidade. De tal expressão.
[13] Hermínio era um deficiente mental idoso, que vivia na mesma cidade e chamava de padrinho ou madrinha a todas as pessoas que o tratavam com dignidade e respeito. Costumava compor inúmeras músicas de bumba-boi de orquestra, imitando com a boca os sons dos instrumentos de sopro.
[14] “Quanto”, na publicação anterior.
[15]  “Só existe um: o espaço mental. nele. individual ou coletivamente.cabem todos os gestos da humanidade.”, idem.