quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Gilbert Durand e a Teoria do Imaginário - Obras



   A teoria do Imaginário veio, ao longo dos anos, se estruturando enquanto teoria científica, cujo desenvolvimento se deve à descoberta, no século XIX, da dimensão do inconsciente humano, que permitiu a comprovação de que o psiquismo não funciona apenas à luz da percepção imediata e de um encadeamento racional de ideias, mas, também, na penumbra de um inconsciente, revelando as imagens irracionais do sonho, da neurose ou da criação poética. (DURAND, 2010)
     Assim, esta teoria vem se consolidando nos meios científicos e abrindo portas para novos conhecimentos e atuações profissionais diante de uma nova visão de homem e de mundo. 
     Aos que situam seus pensamentos num novo paradigma de construção científica e desejam conhecer mais aprofundadamente a Teoria do Imaginário, da forma como foi desenvolvida pelo francês Gilbert Durand, apresentaremos algumas de suas principais obras neste campo. 
* Referência: DURAND, Gilbert. O Imaginário: ensaio acerca das ciências e da filosofia da imagem. 4ª ed. Rio de Janeiro: DIFEL, 2010.





RESUMO INFORMATIVO DA INTRODUÇÃO DO LIVRO “A IMAGINAÇÃO SIMBÓLICA” DE GILBERT DURAND
                                                                                                 
                                                                                                                                    Por Lia Fonteles*

           
O vocabulário do simbolismo
           
           
            Durand inicia sua obra fazendo alusão ao uso indiscriminado de termos relacionados ao imaginário por diversos autores devido a imensa desvalorização que sofreu a imaginação no pensamento ocidental e da Antiguidade Clássica. Ele então coloca a existência de duas maneiras que a consciência possui para representar a realidade: uma direta, na qual a própria coisa parece estar presente no espírito, como na percepção ou na simples sensação; e outra indireta, quando a coisa não pode apresentar-se de carne e osso à sensibilidade, como em recordações, imaginação de paisagens em outros planetas, etc. Nesses últimos casos, o objeto ausente é “re-presentado” na consciência por uma imagem. De outro modo, a consciência dispõe de diferentes graus de imagem, a qual pode ser a cópia fiel da sensação ou apenas assinalar a coisa. Assim, a imagem pode ter dois extremos: um constituído pela adequação total, a presença perceptiva, e outro pela inadequação mais extrema, um signo eternamente viúvo de significados, que seria o símbolo.
            O símbolo pertence à categoria do signo, porém, a maior parte dos signos, como o sinal, a palavra, a sigla, o algoritmo, são apenas subterfúgios de economia, que remetem a um significado que poderia estar presente ou ser verificado. Nada impede que tais signos sejam escolhidos arbitrariamente, a não ser que se remetam a abstrações, como a justiça e a verdade. Daí decorre a existência de alegorias, que é um signo complexo que traduz concretamente uma ideia difícil de compreender ou de exprimir de uma maneira simples. Os objetos que compõem a alegoria podem ser denominados emblemas e a narrativa acerca do signo, envolvendo exemplos de fatos mais ou menos reais ou alegóricos é o apólogo.
            Portanto, é possível verificar a existência, pelo menos em teoria, de dois tipos de signos: os arbitrários, puramente indicativos, que remetem para uma realidade puramente significada, se não presente, pelo menos sempre apresentável; e os alegóricos, que remetem a uma realidade significada dificilmente apresentável, os quais são obrigados a figurar concretamente uma parte da realidade que significam.
            Finalmente ele chega à imaginação simbólica propriamente dita, quando o significado não é de modo algum apresentado e o signo só pode referir-se a um sentido e não a uma coisa sensível. Neste momento, Durand usa as ideias Jung para definir o símbolo como “a melhor figura possível de uma coisa relativamente desconhecida que não conseguíamos designar inicialmente de uma maneira mais clara e mais característica.” Além disso, ainda  utilizando Jung, esclarece que “a diferença entre uma representação simbóloca e uma representação alegórica reside no fato de que esta última dá unicamente uma noção geral, ou uma ideia que é diferente de si mesma, enquanto a primeira é a própria ideia tornada sensível, encarnada.“ Durand complementa que o símbolo seria o inverso da alegoria, pois esta faz parte de uma ideia(abstrata) para chegar a uma figura, enquanto o símbolo é primeiro em si figura, e como tal, fonte, entre outras coisas, de ideias. O símbolo tem em sua natureza o significado inacessível, epifania, ou seja, aparece através do e no significante, do indizível.
            Assim, o domínio de predileção do simbolismo é o não-sensível sob todas as suas formas: inconsciente, metafísico, sobrenatural e surreal. Para Durand, o símbolo é a epifania de um mistério, pois é a transfiguração de uma representação concreta através de um sentido para sempre abstrato. Usando das ideias de Poul Ricoeur, o autor coloca que um símbolo autêntico possui três dimensões concretas: cósmica (ou seja, se figura no mundo visível que nos rodeia), onírica (uma vez que enraíza-se nas recordações, nos gestos que emergem nos nossos sonhos e constituem a massa muito concreta da nossa biografia mais íntima) e poética (pois o símbolo apela à linguagem). Por outro lado, a parte invisível e indizível constitui uma espécie de lógica bem à parte.
            Durand então considera a existência de um duplo imperialismo, simultaneamente do significante e do significado, na imaginação simbólica, o que marca o signo simbólico e constitui a “flexibilidade do simbolismo”, segundo Cassirer. O imperialismo do significante se dá na repetição, que chega a integrar numa única figura as qualidades mais contraditórias; e o imperialismo do significado transborda por todo o universo sensível para se manifestar, repetindo incansavelmente o ato epifânico. Assim, ambos possuem um caráter comum da redundância, sendo através do poder da repetição que o símbolo preenche indefinidamente a sua inadequação fundamental. Tal repetição é sempre aperfeiçoante.
            Neste ponto, Durand traz alguns exemplos, através de uma classificação sumária do universo simbólico: a redundância significante dos gestos constitui a classe dos símbolos rituais; a redundância das relações linguísticas é significativa do mito e dos seus derivados; já a imagem pintada, esculpida e tudo o que se poderia chamar de símbolo iconográfico, constitui múltiplas redundâncias.
            Sobre este último aspecto, Durand defende que o verdadeiro ícone é instaurador de um sentido. Há uma diferença entre o ícone e a simples imagem, que é clausura sobre si mesmo, rejeição do sentido, cópia inerte do sensível.
         Durand então finaliza esta introdução atingindo o objetivo básico de mostrar as diferenças existentes entre signo, alegoria e símbolo, abrindo, assim, o caminho para a discussão a respeito de como o desenvolvimento deste tipo de conhecimento se deu no decorrer dos anos no ocidente até os dias atuais, em que o apaziguamento entre razão e imagem possibilitou encarar a possibilidade de uma ciência e de um saber novo baseado na simbologia e o estudo as funções filosóficas do simbolismo. 
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* Psicóloga e Pedagoga. Aluna do Curso de Mestrado em Educação da Universidade Federal do Maranhão. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Arte, Cultura e Imaginário na Educação, da referida universidade.


Informações extraídas do livro:
No Ocidente, o imaginário, ou o museu e os processos de todas as imagens possíveis, não apenas foi considerado suspeito como reprimido durante séculos pelos valores cognitivos existentes. Atualmente, o progresso das ciências permitiu, por meio de um "efeito perverso" admirável, uma divulgação gigantesca das técnicas da imagem. Por conseguinte, todas as disciplinas universitárias colaboraram na criação de uma "ciência do imaginário", exigindo uma transferência de poder revolucionária das pedagogias, políticas e éticas...


Informações extraídas do livro:
Gilbert Durand, discípulo de Bachelard, concebeu esta obra com o objetivo de completar antropologicamente a investigação inaugurada por aquele pensador em A Psicanálise do Fogo. Ele pretendeu que seu livro fosse uma espécie de "jardim" das imagens, que ordenou e classificou, segundo uma dinâmica intrínseca, sem recorrer a critérios que lhe fossem exteriores. Esse dinamismo resulta de um trajeto antropológico que leva em conta a homologia do psíquico, do cósmico, do social e mesmo do  biológico, organizados numa significação integrada, segundo uma lógica não linear, mas constelacional. Ao estudar como funciona o Imaginário, Gilbert Durand coloca-nos no cerne das questões suscitadas pelo estruturalismo que substitui os processos temporais da explicação discursiva clássica pelos processos espaciais - topológicos. Mas, enquanto o estruturalismo de Lévi-Strauss ou de Greimas é redutor, pelo formalismo, Durand, na linha de investigadores como Jung, Piaget e Bachelard, convida-nos a pensar as estruturas do Imaginário em termos de conteúdos dinâmicos, como meio fundamental para a compreensão das bases míticas do pensamento humano. 

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012


Seguem abaixo as informações acerca do IV Seminário Arte é Imaginário na Educação, que acontecerá nos dias 02, 03 e 04 de maio de 2012, na Universidade Federal do Maranhão. As inscrições devem ser realizadas através do site https://sites.google.com/site/ivseminarioaie/

IV Seminário Arte e Imaginário na Educação


             O IV Seminário Arte é Imaginário na Educação é uma realização do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFMA, através do Grupo de Estudos e Pesquisas sobra Arte, Cultura e Imaginário na Educação – GSACI. No presente ano o encontro acontecerá no Auditório Central da Universidade Federal do Maranhão e em salas de aula já reservadas para as comunicações.
      O tema do presente evento é Arte, Imagem e Imaginário e pretende integrar pesquisadores do tema oriundos de vários pontos do país. Para tanto está estruturado em mesas redondas, comunicações, posters, atividades culturais – incluindo lançamento de livros e apresentações de pesquisas oriundas do próprio grupo de pesquisa proponente do seminário.
            O tema do encontro é bastante atual mormente num momento em que diversas frentes de estudos e pesusias, no campo das Ciências Humanas e Sociais, questionam a base de um paradigma da razão clássica, o qual privilegia a razão e  a técnica em detrimento da emoção, da subjetividade, da criatividade – enfim, do equilíbrio entre a razão clássica e a razão sensível, como preconiza Michel Maffesoli.
O presente encontro, portanto, se torna bastante necessário, tendo em vista a carência de maior divulgação dos esteios teóricos e metodológicos do campo do estudo da arte e do imaginário na educação, sobretudo em terras maranhense e no âmbito da Universidade Federal do Maranhão. Foram convidados pesquisadores de todo o país, com ampla experiência e produção em seus campos de estudos,  para apresentarem em conferências  e mesas redondas o resultado de suas pesquisas. São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Pernambuco, Goiás e Paraná estarão representados, além do Maranhão, sede do encontro. Todas as seções serão seguidas de debates, possibilitando maior interface entre pesquisadores, estudantes de pós-graduação e graduação, professores universitários, da educação básica, além de artistas e pessoas da comunidade interessadas no tema.
  O evento acontece de dois em dois anos, desde o ano de 2006 e sempre contou com palestrantes de pesquisadores de outros estados.

IV Seminário Arte e Imaginário na Educação



IV Seminário Arte e Imaginário na Educação



Programação

Dia 02/05/2012

8:00/12:00
 - Credenciamento e Exposição de Posters

Local: Hall do Auditório Central

12:00/14:00
 - Almoço

14:00/17:00 - Apresentação de pesquisas e trabalhos oriundos do GSACI/PPGE/UFMA

Coordenação: Prof. Dr. João de Deus Vieira Barros

17:30
 - Cerimônia de Abertura

18h - Conferência de Abertura: Arte e Imagem – As contribuições da Teoria do ImaginárioProfa. Dra. Danielle Perin Rocha Pitta (UFPE)

19:30 - Coquetel e Lançamento de Livros
Apresentação Musical: Totti e os Espiritu's.

Dia 03/05/2012

8:00 - Acolhida cultural

8:30 - Conferência 1 - Literatura, Imagem e Imaginário – reverberações na Educação

Profa. Dra. Elza Kioko do Couto (UFG)

9:30 - Debates

10:00 - Café

10:30 – Mesa Redonda 1 - Imagem, Imaginário e Educação

Profa. Dra. Marly Costa Patrão (FMU/SP) - reflexões teóricas

Prof. Dr. João de Deus Vieira Barros - aulaperformance: A imagem da mulher na musica popular brasileira

12:30/14:30 - Almoço

14:30 - Comunicações - Eixo 1

16:30 - Intervalo/Estante de livros

17:00 - Comunicações – Eixo 2

Dia 04/05/2012

8:00 - Acolhida Cultural

8:30 - Conferência 2 - Eixo: Arte, Imagem e Imaginário

Tema: Imaginário, Cultura e simbolismo: a complexidade mundializada e a arte - Prof. Dr. Edison Mercuri (UNESPAR)

9:30 - Debates

10:00 - Café

10:30 – Mesa Redonda 2 - Imagem, Imaginário e Pesquisa

Danielle Rocha Pitta (UFPE), Altair Lahud (UCB) e Iduina Mont’Alverne Chaves (UFF)

12:30/14:30 - Almoço

14:30 - Comunicações – Eixo 3

16:30 - Intervalo/Estante de Livros

17:00 - Comunicações - Eixo 4

19:00 - Encerramento - Exposição Arte para vestir - Desenhos a carvão em roupas
Artista Plástico: Uendell Rocha (São Jose de Ribamar-MA)

    Todas as atividades serão realizadas no Auditório Central da UFMA. Por se tratar de Seminário, as mesmas serão seguidas de debates. Dependendo do número de trabalhos aprovados, suas apresentações poderão ser transferidas para salas de aulas.

    Os posters (projetos de pesquisa, pesquisas iniciadas ou trabalhos de iniciação científica) e comunicações (pesquisas concluídas, relatos de experiências, artigos oriundos de pesquisas em andamento, concluídas ou de reflexo es teóricas) deverão ser direcionados a um dos eixos temáticos que serão abordados nas conferências e Mesas Redondas, a saber:


  • Eixo 1: Literatura, Imagem e Imaginário – reverberações na Educação
  • Eixo 2: Imagem, Imaginário e Educação
  • Eixo 3: Arte, Imagem e Imaginário
  • Eixo 4: Imagem, Imaginário e Pesquisa